quarta-feira, 15 de agosto de 2012

O uso de peles, a proteção aos animais e a mediocridade humana.

Imagem retirada da página Boicote Boticário
 
Sabem quando uma ideia surge na cabeça, e vocês simplesmente escrevem, escrevem... até transmitir da melhor maneira possível aquele pensamento. Pois é, o post de hoje está assim, então espero que estejam dispostos a ler.

Estava eu no Facebook toda chique de linda, curtindo a página do Boicote Boticário. A descrição da página é a seguinte: "criamos esse grupo para exigir que O Boticário não aceite patrocinar e participar de eventos de moda que peles sejam aceitas".

Ok, lindo! Eu super concordo que essa história de usar a pele de coelhinho, guaxininzinhos, castores e raposas para fazer roupas e acessórias é de uma crueldade absurda. Eu mesmo não compro, não uso. Logo, eu fui rapidinho curtir a página. Mas depois lembrei que eu, garotinha dark/gótica/underground/metaleira/headbanger/nenhuma das anteriores que sou, amo meus coturnos que são, na sua maioria, de couro legítimo, ou seja, de pele de vaca, boi, bezerro e sei lá mais o que. Fico imaginando, então, se as milhares de pessoas que curtiram a página têm isso em mente. Que couro é pele de bicho, e que está presente na grande maioria dos sapatos que são vendidos no nosso país.

É verdade que tem muitas marcas que usam outros tipos de materiais, mas vamos combinar que na maioria dos casos, o couro é a principal matéria prima. Algum tempo atrás eu andava atrás de certo modelo de sapatos e me tornei, então, adepta de lojas online de calçados. Na época eu era vegetariana, e fiquei impressionada com o fato de que a maior parte dos itens vendidos era feita de couro legítimo. Lembrando que estou falando apenas dos sapatos, e não de outros tantos acessórios que podem ser feitos desse mesmo material, como cintos e bolsas.

Ah! E o que falar então dos amantes de maquiagem, assim como eu?! Acabo de ser a mais nova dona e "poprietária" de um kit de pincéis da Sigma, que possui não apenas pincéis de pêlos sintéticos, como de pêlos naturais; em outras palavras, pêlo de bicho. Sem falar nas "mega palettes" (120, 88 isso, 88 aquilo), que são feitas na China, onde o teste em animais é pré-requisito!

Diga-se de passagem, quando o assunto é China o buraco é mais embaixo. Não só estão em jogo os testes em animais, como a destruição ambiental e as condições precárias (para dizer pouco) nas quais trabalham a maioria dos chineses; a chamada "externalização" de custos. Você pode saber mais sobre isso aqui.

Será mesmo que aquela galera toda da página está consciente dessa realidade?
Sendo otimista, quero acreditar que sim. Quero acreditar que só eu fui boba de clicar em curtir e por um momento esquecer meus cosméticos chineses, meus sapatos de couro, meus pincéis de pêlos de animais. (e os outros produtos que eu nem estou lembrando agora). Mas a verdade é que existe uma pergunta dentro de mim que não quer calar. Será que se preocupar apenas com os animais não é de uma hipocrisia monstruosa?

Não estou dizendo que quem protege os animais é hipócrita, pelo contrário! Sou do tipo "amiga dos animais" e também tento fazer minha parte. Mas será que não é muito pouco? Será que não estamos esquecendo aqueles da nossa própria espécie, da nossa própria raça, os seres humanos?!
Já é tão fácil postar foto do cachorrinho maltratado, e comprar aquela paleta chiquérrima de batons feita na China e testada nos próprios bichinhos que queremos proteger. Mais fácil ainda é esquecer das pessoas que trabalham na fábrica que produz a paleta chiquérrima, esquecer dos produtos tóxicos aos quais elas são expostas e que são também descartados de qualquer forma no ambiente - as pessoas e os produtos.

Não estou aqui apontando o dedo na cara de alguém e dizendo "você não passa de uma pessoazinha medíocre". Estou gritando minha própria mediocridade, estou questionando meus próprios hábitos de consumo e, com isso, te convidando a pensar os seus.

Espero comentários, o post é um convite ao debate =)

Tchüss

10 comentários:

  1. Ótimo post Bárbara!
    Sou da opinião de que estes testes com animais que são financiados pelas futilidades e conforto de pessoas que, mesmo sem saber, e dizendo-se defensor dos animais e do meio ambiente compram e consomem os produtos gerados por esses meios.
    Alguns até sabem, e têm dó, mas fingem não saber na hora de comprar, e os usam do mesmo jeito.
    Eu consumo esses produtos, sei da forma como são produzidos e não vou deixar de usa-los. Não serei hipocrita de dizer que acho isso um absurdo. Eu acho isso necessario. Uma futilidade, mas uma necessidade.

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  2. Ontem fiz um comentário la na pagina sobre uma imagem que mostrava um abate de um coelho. O propósito daquilo era muito tendencioso, então expliquei baseado em minha propria experiencia em abate dos pequenos lagomorfos os motivos e formas de faze-lo, pois não se abate coelho pela pele, e sim pela carne, o aproveitamento da pele é conseqüência, pois acabaria sendo jogada fora com as demais visceras. Expliquei que a forma de abate deve ser realizada de forma a evitar o sofrimento do animal, de forma que evita a produção de adrenalina que inviabilizaria o consumo da carne. E é mais ecologicamente correta uma criação de coelhos que ocupa menor espaço e produz menos poluição por gas metano que a pecuária bovina. Sabe qual foi a resposta? A mais estúpida e irracional possível, coisa de gente mimizenta que tratou de me desqualificar para abaixo de uma barata ao invés de apresentar argumentos. Eu duvido muito que essa pessoa deixe de comer um bom churrasco ou uma salsicha que seja. A única coisa que ela quer é impressionar e pagar de boazinha no "sofativismo" (sofá + ativismo) dela.

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    1. Em adendo a tudo que disse, acho que há uma confusão entre veganismo (e variantes) e o desejo da proteção ambiental, pois a dita pessoa não soube separar ambas. É lógico que é válido e diria até moral ser contra abater uma raposa ou outro animal silvestre para extrair sua pele, mas quanto àqueles criados em regime de confinamento para produção de carne não há o que se contestar, pois tal pele seria jogada fora de qualquer maneira. Carne é necessária ao ser humano, por mais que os vegans fraudem pesquisas a respeito, não sinto culpa ao consumi-la e muito menos ao utilizar produtos oriundos do processo de obtenção dela.

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    2. Sim colega, é bem essa intenção do post, fazer com que as pessoas repensem de fato se as ações próprias de consumo, refletem as idéias pregadas, que muitas vezes são abatidas pela própria lógica processual, muito obrigado mesmo pela sua opinião e volte sempre que quizer!

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  3. A. Percy, acho que você não entendeu a proposta do post, mas respondendo às suas colocações (ou melhor, dialogando com você), vamos lá.
    Eu não entendo nada de consumo de carne de coelho. Nunca vi a mesma ser vendida no mercado nem oferecida na churrascaria. Se a sua informação for verdadeira (de que o abate dos coelhos se dá em razão do consumo de sua carne, e não da pele), vou concordar contigo e dizer que a utilização da pele nada mais é que o aproveitamento do coelho todo. Mas eu duvido muito que toda pele oferecida no mercado provém desse consumo total do animal.
    Além disso, vivemos no Brasil, não na China. Aqui tem carne de vaca, porco e ave, à vontade (para aqueles que possuem condições financeiras para adquiri-la, diga-se de passagem). Será que existe mesmo necessidade AQUI de se comer coelho, ou de criar raposas para o consumo da carne? Acho isso uma futilidade enorme num país onde a carne é até jogada fora como forma de protesto. Vide o caso daquele produtor que matou uma quantidade absurda de pintinhos na semana passada.
    Mas veja bem, O POST NÃO É SOBRE VEGANISMO! Apenas disse que, quando era vegetariana, e estava à procura de sapatos que não fossem feitos com couro animal, me surpreendi com a dificuldade de encontrar esse tipo de produto, só isso. Das duas uma, ou você de fato teve um probleminha na hora de interpretar o texto, ou quis polemizar o assunto aqui. Então te convido a reservar seus comentários "pró-consumo de carne" quando o tema do post estiver relacionado a isso. Como eu disse no final do texto, a ideia é propor uma reflexão sobre os hábitos de consumo, porque no fim das contas, esta é uma questão que vai além da matéria prima utilizada.
    De qualquer forma, acredeço sua colaboração aqui no blog e reitero o convite do Luiz ;)

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    1. Aquilo foi um desabafo quanto aquele perfil do facebook, beg your pardon, please.
      Naquele dia eu tinha dado uma bela resposta educada ao dono(a) daquele perfil sobre o que é a cadeia de produção da carne do coelho e que a imagem que ela tinha postado era tendenciosa, pois apenas mostrava a sangria do coelho sem esclarecer todo o processo. Deu no que deu.

      Quanto ao objeto do artigo, fico me indagando algumas coisas desse tipo. Veja o caso de um iPhone, produzido bonitinho la na China por alguns funcionários descartáveis (comunismo é lindo). Por acaso isso é uma informação longe do alcance do publico consumidor de tal aparelho? Não creio, a unica coisa que tenho visto cada vez mais nos ultimos anos são pessoas que trocam aquelas versões "defasadas" de seus iPhones por uma mais nova pois mudou um detalhe cosmético aqui ou acolá. É manifesta a propaganda do status que o produto novo proporciona, "Tio Jobs" fazia questão dessa aura de status.
      Gosta de trocar de carro todo ano? "Claro, não quero ter problemas mecânicos com carro velho". Sim, eu já ouvi essa falácia. Carro hoje em dia não só é um produto descartável como se estabeleceu como o simbolo "master" de status. Aí vc vê o sujeito andando numa Hilux ou aquele outro dos poneis malditos, carros grandes que bebem mais que eu na Oktoberfest e ainda o sujeito vai ter a audácia de dizer que o carro é para ir ao trabalho...
      Pois bem, o que vejo é um mundo de status e aparencias. Viver com moderação é fora de moda, o máximo que todos querem do outro é que ele se submeta a sua grandeza e diga que são os mais "fashions" durante os 15 minutos de glória. Não importa o como produto X foi produzido, apenas se quer aquilo. Não importam os meios, apenas o fim.

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  4. Ola, vim parar aqui investigando a qualificação do face Boicote Boticario que ja curti pq concordo com a questao da cosncientizaçao pela denuncia. Vc esta certa sim em questionar o abate e consumo de outros animais, como bois, porcos, aves, etc, e o fato aproveitamento integral do animal (carne e pele). Sem poder brigar com o mundo inteiro e fazendo parte da massa carnivora, ainda que me restrinja hj a frango e peixe que sofrem menos no abate, a tecnologia na criação e abate para melhor aproveitamento comercial (nada a ver com compaixao) vem promovendo uma morte sem sofrimento ( se isso for realmente possivel), pelo menos nas empresas mais conceituadas.
    Então, o uso posterior do couro, pele, pelos seja la o que for é natural e inteligente.
    Porem, entendo tb que devemos sim levantar estes questionamentos (ate mesmo os que vc mencionou nas maquiagens) a fim de não perdermos a consciencia e a capacidade de julgar entre o que é bom e o que é cruel, pq isso nos faz humanos.
    Pela falta de consciencia (levando a um extremo) os pedofilos defendem sua tara como liberdade de escolha e preferencia sexual...
    Pra isso existem as leis de proteção aos animais e natureza e os ativistas, para nos manterem conscientes de que somos humanos e responsaveis individual e coletivamente por mudanças.
    Assim, entendendo seu texto e tb os ativistas do face, nao cabe hj qualquer tipo de crueldade ou exploração contra a natureza, principalmente animais, apenas para fins cosmeticos e vaidade, pois isso é levar o ser humano a tornar-se tão irracional e egoista quanto alguns animais ja extintos. Nenhuma sociedade sobrevive saudavelmente num ambiente agressivo e sem principios de coletividade.
    Cientificamente comprovado, pessoas que cometem crueldade contra animais propositalmente, tem sim tendencias psicopatas, pq o consideram apenas seus proprios interesses.
    O minimo que paginas como o Boicote podem fazer é denunciar e causar uma investigação mais apurada sobre o assunto.
    Cada um deve fazer sua parte, eu penso. Obrigada pelo espaço.

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  5. Gostei muito do questionamento q propôs no post. Tou dentro! Sou a favor das causas dos bichos, assim como de todas as assim chamadas "minorias". Mas como vc, também faço esse questionamento - e as nossas próprias contradições, na vida como um todo... onde é q ficam qdo nos lançamos a uma causa? Isso vem me levando desde sempre a mudar muitos hábitos.Diminuí drasticamente consumo de carne.Em casa quando como carne, é de galinhas criadas em sistema "free range". Alimentos são orgânicos - mas nem sempre acho todos, e aí... flexibilizo. Cortei o leite há tempos, e alguns derivados tou cortando agora. Questão de saúde espiritual e física.Diminuo assim todo tipo de crueldade... contra vidas - a maior! -, mas tbm contra o meio ambiente em geral e minha saúde em particular. Não me identifico com o discurso de ódio de muitos q defendem causas. Não posso falar de ninguém além de mim, mas o que sei é que... quanto + consciente estou das minhas próprias contradições e do quanto ainda preciso avançar, menos energia e "direito" eu tenho p/ apontar dedos nas caras alheias. Faço minha auto-crítica diariamente, e embora eu ñ ache legal criticar pessoas q eu ñ conheço, acho legítimo e necessário criticar campanhas e grupos aos quais me filio (sei q ñ é teu propósito, mas pra mim é a outra face da mesma moeda, pq somos seres individuais e coletivos ao mesmo tempo). E minha crítica aos movimentos q defendem animais é justo q nós todos, membros, possamos fazer esse exercício de reflexão diária, p/ lutar PELAS CAUSAS em q acreditamos, e não CONTRA o mundo.
    Quanto a mim... continuo a caminhada.Felizmente ñ sou de me maquiar muito, dificilmente uso perfumes, pintar unhas então... é raro. Assim, o fato de ter poucas opções "saudáveis" na hora de comprar produtos cosméticos ñ me aflige. Mas pense como tá impossível comprar simples grampos ou um pente de madeira q ñ seja made in China? Uff... Usei uns prendedores de cabelo até virar pó. Faço de tudo. Tem hora q radicalizo sim. Mas tbm tem hora q flexibilizo... (comprei grampos made in china depois de ir a oito lugares diferentes e ñ achar opção!).Já o pente, tou usando um de plástico péssimo.Ainda em busca do tal pente de empresa idônea e made in South Africa (onde moro atualmente).Na corda bamba das contradições... mas disposta a me tornar uma ótima equilibrista! Abç.

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    1. Sim Luana, a grande questão é que muitas vezes caímos em contradição. A questão de sustentabilidade e proteção das "minorias" às vezes caem num paradoxo infindo. Muitas vezes, como no caso do pente, compensa adquirir algum de madeira, ou de um plástico melhor, pela durabilidade em si. A produção de polímeros é altamente poluente, e ter um baixo retorno custo x benefício, pois a durabilidade é baixa.

      Obrigado pela opinião e volte sempre.

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